Carlos
Lamarca – UM NOME PRA NUNCA MAIS SER LEMBRADO
No meio da tarde de uma sexta-feira, sob o ardente calor de 40
graus da caatinga do sertão baiano, uma equipe de agentes, aproximando-se passo
a passo, vislumbrou os dois homens que descansavam à sombra de uma baraúna, no
lugarejo de Pintada, município de Oliveira dos Brejinhos.
À voz de prisão, tentaram sacar suas armas. Duas rajadas curtas
mataram os dois homens.
Um deles era José Campos Barreto, o Zequinha, morador da região.
O outro, era Carlos Lamarca, ex-Capitão do Exército, ex-dirigente
da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e da Vanguarda Armada Revolucionária
- Palmares (VAR-P), naqueles tempos já militante do Movimento Revolucionário
Oito de Outubro (MR-8) e escondido no interior da Bahia.
Foi o fim trágico de um desertor do exército, que se tornou comunista
e também assassino, sequestrador e ladrão, mas que hoje, devido a lavagem
cerebral feita pela mídia e pelas universidades, que são simpatizantes da
esquerda, ele descaradamente posa de herói e o intuito dessa matéria é revisar
a história, corrigi-la e colocar Lamarca em seu devido lugar: Na galeria dos
Inimigos da pátria, dos traidores e covardes que ajudaram a transformar o
impávido Colosso em uma república das bananas.
Carlos
Lamarca –
1- UM NOME A NUNCA MAIS SER LEMBRADO
No meio da tarde de uma sexta-feira, sob o ardente calor de 40
graus da caatinga do sertão baiano, uma equipe de agentes, aproximando-se passo
a passo, vislumbrou os dois homens que descansavam à sombra de uma baraúna, no
lugarejo de Pintada, município de Oliveira dos Brejinhos.
À voz de prisão, tentaram sacar suas armas. Duas rajadas curtas
mataram os dois homens.
Um deles era José Campos Barreto, o Zequinha, morador da região.
O outro, era Carlos Lamarca, ex-Capitão do Exército, ex-dirigente
da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR) e da Vanguarda Armada Revolucionária
- Palmares (VAR-P), naqueles tempos já militante do Movimento Revolucionário
Oito de Outubro (MR-8) e escondido no interior da Bahia.
Foi o fim trágico de um desertor do exército, que se tornou comunista
e também assassino, sequestrador e ladrão, mas que hoje, devido a lavagem
cerebral feita pela mídia e pelas universidades, que são simpatizantes da
esquerda, ele descaradamente posa de herói e o intuito dessa matéria é revisar
a história, corrigi-la e colocar Lamarca em seu devido lugar: Na galeria dos
Inimigos da pátria, dos traidores e covardes que ajudaram a transformar o
impávido Colosso em uma república das bananas
Lamarca nasceu em 27 de outubro de 1937 e viveu, até os 17 anos,
no Morro de São Carlos, no Rio de Janeiro, com seus irmãos e uma irmã de
criação, Maria Pavan, que viria a ser sua esposa. Em meados da década de 50,
como muitos, entusiasmou-se com a campanha do "O Petróleo é Nosso",
politizando-se com as idéias nacionalistas que o influenciaram a procurar a
carreira militar.
Depois de reprovado por duas vezes nos exames, ingressou, em 1955,
como aluno na Escola Preparatória de Cadetes de Porto Alegre. Três anos depois,
estava matriculado na Academia Militar das Agulhas Negras (AMAN). Já como
cadete, Lamarca -- clandestinamente e fora dos limites da AMAN -- participou de
grupos de estudo do marxismo-leninismo, tornando-se um simpatizante do Partido
Comunista Brasileiro (PCB).
Em 1960, aspirante-a-oficial da Arma de Infantaria, foi designado
para servir no quartel do 4º Regimento de Infantaria (4ºRI), em Quitaúna/SP. Como
tenente, iniciou estudos sobre guerrilha e, em junho de 1962 e participou,
durante 13 meses, da Força de Emergência da ONU, no Oriente Médio.
Retornando ao Brasil, foi designado, em outubro de 1963, para a
então 6ª Companhia de Polícia do Exército (6ª Cia PE), em Porto Alegre/RS.
A Revolução de 31 de março de 1964 veio encontrar o Tenente
Lamarca na 6ª Cia PE, Nesse ano, já
transitando com desenvoltura pelas esquerdas, chegou a pedir o seu ingresso no
PCB,(partido Comunista Brasileiro) o que não aconteceu.
Na noite de um sábado de dezembro de 1964, quando escalado de
oficial-de-dia, Lamarca, deliberadamente, facilitou a fuga do Capitão da
Aeronáutica Alfredo Ribeiro Daudt, que estava preso por subversão. O inquérito,
aberto para apurar o seu primeiro ato de traição ao Exército Brasileiro, não
chegou a conclusões definitivas. Entretanto, essa fuga inexplicável tornou o
ambiente demasiadamente tenso para ele, na PE. Novamente movimentado,
apresentou-se, em dezembro de 1965, no seu antigo quartel do 4º RI, em
Quitaúna.
Nesse quartel paulista, reencontrou-se com seu amigo, o Sargento
Darcy Rodrigues, com quem, novamente, passou a ter longas conversas sobre a
situação brasileira e a realizar um estudo sistemático sobre o
marxismo-leninismo.
Em 1968, várias organizações clandestinas, de linha foquista e
militarista, sob o pretexto de livrar o Brasil da ditadura militar,
ensangüentavam-no, desencadeando as ações armadas e terroristas preconizadas
por Cuba. Uma delas era a Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), criada, em
março desse ano, pela fusão do grupo foquista dissidente da Política Operária
(POLOP) com os remanescentes do núcleo de São Paulo do Movimento Nacionalista
Revolucionário (MNR), de Brizola. Paradoxalmente, uniram-se os
"políticos" teóricos com os "militares" práticos.
Depois de estabelecer conversações com a Ação Libertadora Nacional
(ALN) e com o Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Lamarca decidiu ingressar na
VPR, seduzido pela facilidade com que poderia galgar os postos de comando,
fazendo valer sua natural ascendência hierárquica sobre os inúmeros sargentos
que integravam a organização.
Assim, em junho de 1968, ingressou na base militar da VPR, levado
pelos irmãos de um de seus dirigentes, o ex-sargento Onofre Pinto. De imediato,
criou uma célula clandestina da VPR no seu quartel, o 4º RI, composta pelo
Sargento Darcy Rodrigues, pelo Cabo José Mariano Ferreira e pelo Soldado Carlos
Roberto Zanirato.
Muito "convenientemente", Lamarca era, na época, o
instrutor de tiro da Unidade.
Com essa facilidade, cometeu a segunda traição ao Exército,
conseguindo desviar 2 mil balas de fuzil para municiar os 9 FAL que haviam sido
roubados pela VPR, em 22 de junho de 1968, no assalto ao Hospital Geral de São
Paulo, no Cambuci.
Em dezembro desse ano, explodiu a crise latente na VPR, provocada
pela contradição entre a prática e a teoria, entre os "militaristas",
oriundos do MNR, e os "políticos" ou "leninistas", oriundos
da POLOP. Numa conturbada reunião realizada no litoral paulista, que ficou
conhecida como a "praianada", os "militaristas", agora
fortalecidos pela adesão do Capitão Lamarca, assumiram a direção da VPR.
.
Apesar do comando militar da área já ter tido conhecimento, desde
outubro de 1968, da existência de uma célula comunista no 4º RI e, inclusive,
da participação do Capitão Lamarca, as medidas então tomadas -- fruto do
despreparo em combater ações desse tipo -- revelaram-se inócuas e não impediram
o assalto.
Assim, no final da tarde de sexta-feira, se consumou sua terceira
traição ao exército e a pátria brasileira e em 24
de janeiro de 1969, Lamarca entrou no 4º RI com sua própria Kombi e, no paiol,
carregou-a com 63 FAL, 3 metralhadoras INA, uma pistola .45 e farta munição.
Dali, dirigiu-se para a casa de Onofre Pinto, a fim de despedir-se
de sua esposa, Maria Pavan, e do casal de filhos que, naquela mesma noite,
embarcariam para Cuba, via Roma, junto com a família de Darcy Rodrigues.
Com 31 anos, Carlos Lamarca desertava do Exército e ingressava na
clandestinidade, com seu nome já aureolado pelo ato audacioso. Com a família em
segurança, pôde livremente desfrutar da companhia de sua amante Iara Iavelberg,
psicóloga casada com um médico, também militante da VPR, e que, desde sua
antiga militância na POLOP, Alimentado pelo desejo de logo iniciar as ações
violentas, foi planejá-las nos locais secretos da organização, os
"aparelhos". Em pouco tempo, cometeria o seu primeiro assassinato.
2. O 1º ASSASSINATO
Depois
de um Congresso realizado em abril de 1969, numa casa em Mongaguá, cidade do
litoral paulista, entre Praia Grande e Itanhaém, no qual Lamarca foi eleito um
dos cinco membros do Comando Nacional (CN), a VPR reiniciou as ações armadas.
Na tarde de 09 de maio, Lamarca comandou o assalto simultâneo aos bancos Federal Itaú Sul-Americano e
Mercantil de São Paulo, na Rua Piratininga, bairro da Moóca, cujo gerente, Norberto Draconetti, foi
esfaqueado e o guarda-civil, Orlando Pinto Saraiva, morto com dois tiros,
um na nuca e outro na testa, disparados por Lamarca, que se encontrava
escondido atrás de uma banca de jornais. No final da ação, disparou uma rajada
de metralhadora para o ar, como a marcar, ruidosa e pomposamente, o seu
primeiro assalto a banco e o seu primeiro assassinato.
Os primeiros meses de 1969, entretanto, foram marcados pelas
prisões de dezenas de militantes da VPR e do Comando de Libertação Nacional
(COLINA), organização criada em junho do ano anterior por dissidentes da
Política Operária (POLOP) em Minas Gerais e no Rio de Janeiro. Debilitadas,
ambas buscaram, na fusão, um modo de rearticularem-se, formando uma única
organização, mais poderosa e de âmbito quase nacional. Dessa forma, no início
de julho de 1969, surgiu a Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-P),
com Lamarca integrando, com mais cinco membros, o seu Comando Nacional (CN).
Nessa época, Lamarca já
era um dos comunistas mais procurados. O roubo das armas, a deserção e o
primeiro assassinato levaram os órgãos de segurança a efetuarem esforços
especiais para a sua captura. O Exército,
particularmente, sentindo-se traído, colocara como ponto de honra o fim dos
seus atos terroristas. No entanto, ele não era mais um subversivo desconhecido,
que necessitava ser identificado. Sua fama e sua origem o qualificavam como
extremamente perigoso e sua fotografia atualizada era guardada no bolso de
muitos agentes. Sua aparência física e, principalmente, seu rosto cadavérico,
tornavam-no um alvo fácil de ser reconhecido. Lamarca sabia disso e resolveu
mudar.
Em julho de 1969, dois médicos militantes da Base Médica da VPR,
Almir Dutton Ferreira e Germana Figueiredo incumbiram-se da tarefa.
Almir convocou seu amigo de infância, o dentista Rogério Iório,
que, em quatro consultas em seu consultório na Avenida Nelson Cardoso, em
Jacarepaguá, trocou todos os dentes superiores de Lamarca.
Quinze dias depois, já em agosto, Almir procurou um outro amigo, o
médico Milton Nahon, que conseguiu os serviços do também militante comunista
Afrânio Marciliano Freitas Azevedo, cirurgião mineiro do Hospital Gaffrée
Guinle, que, com o auxílio do médico cearense Amauri Luzardo Santiago de
Almeida e do anestesista Luiz Alves, realizou a operação plástica na Clínica
São João de Deus, na Rua Almirante Alexandrino, em Santa Tereza. Lamarca foi
internado com o nome de "Paulo Cesar de Castro" e chegou na clínica
estranhamente vestido de mulher, com trejeitos para se passar por cabelereiro e
homossexual. Durante as 24 horas da cirurgia, dois militantes da VPR, Sonia
Eliane Lafoz e Wellington Moreira Diniz - este escondido no armário,
permaneceram no seu quarto, como seguranças armados.
Logo depois, já com o nariz reduzido e sem os marcantes sulcos da
testa e da face, Lamarca tirou fotografias para a nova identidade e viajou para
São Paulo, numa caravana composta por seguranças e pelo médico da VPR Luiz
Roberto Tenório, que a capitaneava num Gordini.
Entretanto, se a cirurgia deu certo e tínhamos um novo Lamarca, o
mesmo não ocorria com a fusão que dera origem à VAR-PALMARES. Se, por um lado,
os "marxistas" oriundos do COLINA, melhor preparados politicamente,
criticavam os "militaristas" da VPR pelo "imediatismo
revolucionário", por outro, os oriundos da VPR sentiam-se moralmente fortalecidos
pelo que levavam para a nova organização: 55 milhões de cruzeiros e um grande
arsenal de armas, munições e explosivos.
Nem a "Grande Ação" -- assalto ao cofre de Anna
Benchimol Capriglione, amante de Adhemar de Barros, ex-Governador de São Paulo,
e que proporcionou à VAR-P cerca de 2 milhões e 800 mil dólares -- conseguiu
acalmar os conflitos entre os dirigentes.
Entre agosto e setembro de 1969, uma casa em Teresópolis abrigou
33 militantes que, depois de 20 dias, transformaram aquilo que seria o I
Congresso Nacional da VAR-P num festival de bebedeiras, drogas e sexo, recheado por acirradas discussões
político-ideológicas que, por pouco, não degringolaram em agressões físicas e
tiros.
Ao final, concretizou-se um "racha" na VAR-P, surgindo o
"Grupo dos 7" -- dentre os quais, Lamarca -- que foi reestruturar a
VPR.
3. A ÁREA DE REGISTRO
No
feriado da Proclamação da República, Lamarca e Iara Iavelberg chegavam na nova
área de treinamento, localizada no Sítio Palmital, com 40 alqueires de terra,
na altura do Km 254 da BR-116, que liga São Paulo a Curitiba, 30 Km ao Sul do
município de Jacupiranga.
O ex-Capitão - agora utilizando o codinome de "Cid" - e
mais quatro militantes permaneceram no sítio, realizando exercícios de tiro,
marchas e reconhecimento das áreas adjacentes.
No início de dezembro, a VPR adquiriu um outro sítio, de 80
alqueires, situado um pouco mais ao Norte, distante 4 quilômetros da BR-116. A partir
de janeiro de 1970, os militantes contavam com 18 "guerrilheiros”, Mas as
coisas começaram a se complicar.
Em 27 de fevereiro, foi preso Chizuo Ozawa, o "Mário
Japa", que sabia a localização da área. Se falasse, tudo estaria perdido.
Preocupado em libertá-lo, Lamarca exigiu, em caráter de urgência, o seqüestro de um diplomata.
Em 11 de março de 1970, foi seqüestrado o Cônsul do Japão, Nobuo
Okuchi, posteriormente trocado por cinco presos, dentre os quais "Mário
Japa". A localização da Área 2 permanecia secreta.
Mas as dezenas de prisões de dirigentes e militantes da VPR,
ocorridas no início de abril, viriam, novamente, comprometer a segurança da
área de treinamento. Os depoimentos dos presos confirmaram que Lamarca havia feito,
no ano anterior, uma operação plástica e Maria do Carmo Brito, membro do CN,
presa no Rio de Janeiro, apontara a localização da área.
Entretanto, na noite de 18 de abril de 1970, já alertado sobre as
prisões, Lamarca decidiu desmobilizar a área e evacuar os militantes em três
grupos. Dois dias depois, quando chegaram as primeiras tropas da "Operação
Registro", 8 militantes já haviam fugido.
4- O ASSASSINATO DO TENENTE MENDES
Na
noite do Dia das Mães, 08 de maio, depois de mais de duas semanas ainda
cercados na área, Lamarca e mais 6 militantes emboscaram cerca de 20 homens da Polícia Militar
de São Paulo, chefiados pelo Tenente Alberto Mendes Júnior - o
"Berto", como era chamado por sua família, que decidiu se entregar
como refém, desde que seus subordinados, feridos, pudessem receber auxílio
médico.
Na noite seguinte, os 7 guerrilheiros ficaram reduzidos a 5, pois
2 haviam se extraviado na refrega da noite anterior.
Conduzindo o Ten Mendes como refém, prosseguiram na rota de fuga.
Depois de andarem um dia e meio, os 5 guerrilheiros pararam para
um descanso, no início da tarde de 10 de maio de 1970.
Lamarca disse que o Ten Mendes os havia traído, causando a morte
de dois companheiros (não sabia que eles estavam, apenas, desgarrados) e, por
isso, teria que ser executado.
Nesse momento, enquanto Ariston Oliveira Lucena e Gilberto Faria
Lima vigiavam o prisioneiro, Carlos Lamarca, Yoshitane Fujimore e Diógenes
Sobrosa de Souza afastaram-se e, articulando-se em um "tribunal
revolucionário", condenaram o Ten Mendes à morte.
Lamarca, perante os 4 terroristas, responsabilizou-se pelo
assassinato.
Ali mesmo, numa pequena vala e com seus coturnos ao lado da cabeça
ensangüentada, o Ten Mendes foi enterrado.
Alguns meses mais tarde, em 08 de setembro de 1970, Ariston
Oliveira Lucena, que havia sido preso, apontou o local onde o Tenente Mendes
estava enterrado.
Ainda nesse mês de setembro, descoberto o crime, a VPR emitiu um
comunicado "Ao Povo Brasileiro", onde tenta justificar o frio
assassinato, no qual aparece o seguinte trecho:
"A sentença de morte de um Tribunal Revolucionário deve ser
cumprida por fuzilamento. No entanto, nos encontrávamos próximos ao inimigo,
dentro de um cerco que pôde ser executado em virtude da existência de muitas
estradas na região. O Tenente Mendes foi condenado e morreu a coronhadas de
fuzil, e assim o foi, sendo depois enterrado."
Os dirigentes da VPR não só eram os donos da verdade, como arvoravam-se em senhores da vida e da
morte!
Na tarde de 31 de maio de 1970, Lamarca e os 4 militantes
seqüestram uma viatura do 2º Regimento de Obuses 105 e conseguem romper o
cerco, largando o veículo já na cidade de São Paulo, na marginal do rio Tietê,
perto do bairro da Vila Maria, com os militares amarrados à carroceria, sem
roupas.
5. O SEQÜESTRO DO EMBAIXADOR DA SUÍÇA
A ação desencadeou-se na manhã de 07 de dezembro de 1970, na Rua
Conde de Baependi, uma rua estreita, de mão única, que liga o bairro de
Laranjeiras ao Flamengo.
Depois de bloqueado o Buick azul do Embaixador, Lamarca, de
cavanhaque, terno e gravata, bateu no vidro da janela onde estava o segurança,
o Agente da Polícia Federal Hélio Carvalho de Araújo. Abriu a porta e disparou
dois tiros com um revólver "Smith & Wesson" calibre .38, cano
longo, a uma distância de um metro: o 1º tiro atingiu o teto do carro e o 2º,
as costas do Agente que, por instinto, se virara. Com a medula totalmente
seccionada pelo projetil, o Agente viria
a falecer três dias depois, no Hospital Miguel Couto.
Consumado o seqüestro e o seu 3º assassinato, Lamarca levou o
Embaixador para uma casa da Rua Tacaratu, uma ladeira que começava em Rocha
Miranda e terminava em Honório Gurgel.
Nessa casa, durante os 40 dias de cativeiro, junto com quatro
outros militantes, Herbert Eustáquio de Carvalho, Gerson Theodoro de Oliveira,
Tereza Ângelo e Alfredo Hélio Sirkis, Lamarca viu, por diversas vezes, ameaçada
a sua autoridade, na polêmica sobre se matavam ou não o suíço.
6. A SAÍDA DA VPR E O INGRESSO NO MR-8
Se o
seqüestro do Embaixador suíço proporcionou, por um lado, a libertação de 70
militantes, por outro, demonstrou ser uma "vitória de Pirro",
abalando a liderança de Lamarca e iniciando o que viria a ser a desestruturação
da VPR.
Após isso, Lamarco embarcou no MR -8
07. A MORTE NO SERTÃO DA BAHIA
À primeira
vista, parecia que o MR-8 se fortalecia com a vinda do "Cid" ou
"Cláudio", aumentando o seu prestígio junto às esquerdas. Na
realidade, a organização recebia, mais do que um militante, um verdadeiro
"elefante branco" e a responsabilidade de mantê-lo na absoluta
clandestinidade. Para Lamarca, o ingresso no MR-8 representou, nada menos, que
o início do seu fim.
Carlos Lamarca e Iara Iavelberg passaram os meses de abril, maio e
junho de 1971 escondidos de "aparelho" em "aparelho",
dentre os quais o de Renato Perrault de Laforet ("Zé"), em Botafogo,
e o de José Gomes Teixeira ("P1").
A prisão deste último, em 11 de junho, que veio a se somar a uma
série de prisões de militantes e dirigentes do MR-8, precipitou a decisão de
levar o casal para o sertão da Bahia, junto ao trabalho de campo na região do
Médio São Francisco.
Na tarde de 06 de agosto, encontraram-se, no centro de Salvador,
César de Queiroz Benjamin ("Menininho") e José Carlos de Souza. Há
algum tempo na vigilância, policiais deram voz de prisão aos dois militantes.
José Carlos foi preso e começou a denunciar diversos companheiros.
A partir de 17 de agosto, Iara Iavelberg, passou a residir no apartamento 201, do
Edifício Santa Terezinha, na Rua Minas Gerais, 125, na Pituba, com Jaileno
Sampaio da Silva e sua companheira Nilda Carvalho Cunha, além da irmã desta,
Lúcia Bernardeth Cunha.
No dia 20 de agosto de 1971, através das declarações de José
Carlos, a polícia cercou o Edifício Santa Terezinha e exigiu a rendição dos
ocupantes do apartamento 201. Após terem sido presos Lúcia, Jaileno e Nilda,
Iara Iavelberg foi encontrada no apartamento vizinho, o 202, onde se escondera
no início do cerco. Não vendo possibilidades de fuga e assolada por bombas de
gás lacrimogênio, a amante de Lamarca suicidou-se com um tiro no coração.
No dia seguinte, um sábado, às 19:00 horas, logo depois de passar
um telegrama do Rio de Janeiro para Iara (sem saber que ela já estava morta), o
"Menininho", num Volks com Ney Roitman, Alberto Jak Schprejer
("Souza", "Beto") e sua amante Teresa Cristina de Moura
Peixoto ("Tetê"), é detido por uma "Operação Pára-Pedro",
na Avenida Vieira Souto, na altura do Jardim de Alá. Ao serem solicitados os
documentos, o "Menininho" saiu rapidamente do carro, fugindo correndo
entre os transeuntes. Pela 3ª vez, conseguia escapar de um cerco policial. No
veículo, ficaram o diário de Lamarca e cartas para Iara, escritas de 29 de
junho a 16 de agosto, que forneceram, aos órgãos de segurança, a certeza de
onde deveriam procurar e concentrar esforços a fim de capturá-lo.
Sem saber do acontecido e sentindo-se "queimado" no Rio
de Janeiro, César de Queiroz Benjamin retornou a Salvador, sendo preso em 30 de
agosto, num "ponto" delatado por Jaileno, no Rio Vermelho. Após longa
série de assaltos e ter escapado de três choques com a polícia, o
"terrível Menininho", com apenas 17 anos, mostrou-se extremamente
dócil nos interrogatórios. Suas extensas declarações, todas de próprio punho,
desvendaram a linha política e as ações do MR-8. Muitos militantes foram,
então, identificados. Chegou, inclusive, a fazer uma análise dos métodos de
interrogatório aplicados, declarando-se surpreso com o bom tratamento recebido
e com o nível de seus interlocutores.
Com essa nova e importante fonte, os órgãos de segurança, que já
haviam retirado boa parte de seus efetivos da região de Brotas de Macaúbas,
retornaram ao local, iniciando-se nova caçada a Lamarca e a Zequinha.
No meio da tarde de 17 de setembro de 1971, uma equipe de agentes,
integrantes da Operação Pajussara, localizou os dois militantes, que
descansavam à sombra de uma árvore, perto do arruado de Pintada, município de
Oliveira dos Brejinhos. À voz de prisão, tentaram sacar de suas armas. Uma
série de tiros pôs fim ao ex-Capitão comunista - que deixara um rastro de
sangue atrás de si.
08. TRAIDOR DO EXÉRCITO BRASILEIRO
Essa é a verdadeira história de Carlos Lamarca, a qual poucos
conhecem, pois sempre foi contada por só um dos lados.
Muitos anos após sua morte, os tempos mudaram.
Os militantes comunistas que ensangüentaram o País em nome de uma
revolução -- hoje, por eles mesmos vista como equivocada --, não mais matam,
seqüestram ou roubam e nem mais descansam nas enxêrgas dos
"aparelhos" ou da selva. Beneficiados pela anistia, seus crimes foram
esquecidos. Seus atos ensandecidos foram transformados em heróicos e seus
passados são avaliados pelas maiores ou menores "perseguições políticas"
que, supostamente, teriam sofrido.
Em contrapartida,
aqueles que lutaram contra a luta armada, ao lado da Lei e a Ordem, são
tachados de torturadores, de opressores e de reacionários. Listados nos livros
vermelhos elaborados por esquerdistas, são marcados durante toda a vida, ao
arrepio da Justiça, pelos intolerantes derrotados.
Enquanto uns ganham homenagens, monumentos, nomes em logradouros
públicos e filmes patrocinados pelo dinheiro público, outros são acusados,
perseguidos, destituídos de suas funções e convocados a pseudas "comissões
de inquérito".
Para os primeiros, os derrotados na luta armada, a anistia de 1979
não serviu para sepultar as idéias exacerbadas e conduzir a Nação para o
caminho do entendimento mas, apenas, para conceder-lhes a liberdade de atacar
seus antigos inimigos e de praticar o revanchismo.
Para os segundos, a vitória na luta armada foi o estopim da
derrota política e amargam um compulsivo silêncio, patrulhados pela mídia
ideológica.
Assim é com Carlos Lamarca.
Em 25 de agosto de 1983, um desses ex-terroristas, Liszt Benjamim
Vieira, então Deputado Estadual pelo PT do Rio de Janeiro, pronunciou um
discurso INACREDITAVELMENTE MENTIROSO na
Assembléia Legislativa, no qual fez a seguinte assertiva sobre o CRIMINOSO LAMARCA:
"Senhor Presidente,
Senhores Deputados, hoje, 25 de agosto, Dia do Soldado, queremos homenagear um
herói brasileiro. (...) Cursou a Escola Militar, onde foi o primeiro aluno.
Seguiu brilhante carreira militar."
Por ser
"herói", sua viúva, desde 1984, recebe pensão do Exército. Por ser
"herói", sua família também recebeu, por decisão da Comissão dos
Desaparecidos, em 11 de Setembro de 1996, a quantia de R$ 100 mil de
indenização.
Na realidade, em torno de Lamarca
construíram-se muitas lendas E NOTÍCIAS FALSAS
À lenda de que foi primeiro aluno da AMAN, opõe-se a realidade
de que saiu Aspirante-a-Oficial classificado em 46º lugar numa turma de 57
cadetes.
À lenda de que era brilhante atirador, opõe-se a realidade de
que nunca conseguiu, com revólver calibre .38, média maior do que 78 no tiro de
precisão e, apenas, usava a sua condição de "atirador" para roubar
munição e entregá-la para as organizações comunistas.
À lenda de que era um exemplar marido e chefe de família,
opõe-se a realidade de que foi obrigado a se casar, ainda como cadete, por ter
engravidado sua própria irmã de criação, Maria Pavan, e que a enviou para Cuba
com um casal de filhos -- o menino viria a ser tenente do exército cubano --
não por temer por sua segurança, mas para desfrutar do convívio com sua já
amante, Iara Iavelberg.
À lenda de que era um Oficial com brilhante carreira militar,
opõe-se a realidade de que desertou do Exército Brasileiro. Ao divergir, não
pediu sua saída conforme os princípios de ética e de moral que lhe foram
ensinados na caserna. Usando a própria farda, roubou e traiu seu sagrado
juramento de Oficial do Exército, demonstrando não possuir a lealdade que
caracteriza o soldado.
À lenda de que era um herói, "libertador da Pátria",
opõe-se a realidade de suas ações terroristas: assaltos a bancos, seqüestros de
embaixadores, assassinatos, incentivador de guerrilhas urbana e rural, roubo de
armamento e aliciador de outros militares para a causa comunista.
Insuspeitas são as opiniões de Ariston Oliveira Lucena sobre
Lamarca - que com ele participou do assassinato do Tenente Mendes em Registro,
publicadas em entrevista no "Jornal do Brasil" de 22 de setembro de
1988: "... era teoricamente despreparado e politicamente sem experiência
... tinha frieza e intuição ... era autoritário e não gostava de ser
contrariado ..."
Também insuspeitas são as declarações de José Araújo da Nóbrega,
ex-sargento do Exército e militante da VPR, que, em maio de 1970, escreveu de
próprio punho:
"O Cap Lamarca não possui um QI satisfatório, à altura de
ser um líder revolucionário.
É um elemento de caráter volúvel, não tem posição definida, suas
decisões são tomadas seguindo suas tendências emocionais.
Suas qualidades militares são limitadas, tem limites de
aproveitamento prático do conhecimento técnico que possui.
É pouco engenhoso. O valor político que possui para ser um líder
de esquerda lhe foi dado pela imprensa (interessada ou não).
As suas façanhas são limitadas e são raras, todavia é elemento
audacioso."
Na
realidade, apesar da audácia, da lenda e do mito, Lamarca foi um desertor e um
traidor do Exército e da democracia Brasileira, um assassino, ladrão,
sequestrador, enfim, um dos maiores marginais de que se ouviu notícias em nosso
pais.
E é
assim que ele deverá passar para a História.
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