O serviço que
José Bonifácio prestou ao Brasil, dando à independência da Colônia de Portugal
um sentido de todo diferente das independências das colônias da Espanha, foi
imenso. Sua grandeza cresce com o tempo.
Soube fugir à
tentação das popularidades fáceis, entre os radicais mais ruidosos, que o
cercava e do perigo que nos conduzia: o da fragmentação. O da desunião:
brasileiros contra brasileiros. O do separatismo: em vez de um Brasil só,
vários Brasis Estados. Uma América Portuguesa ainda mais dividida que a
Espanhola em repúblicas inimigas umas das outras.
Houvesse educação cívica no Brasil de
hoje, e a honra a José Bonifácio seria muito maior do que a que tem sido
prestada.
Não
se compreende que a sua vida não esteja dramatizada
num filme,
Não
se compreende que suas ideias, suas iniciativas, seus
projetos inspirados num lúcido amor pela pátria que organizou sem repudiar
Portugal, nem aguçar-se em detrator dos portugueses não sejam temas mais
frequentes para composições escolares, teses universitárias, ensaios que as
universidades, as academias, os institutos consagrassem com seus melhores
lauréis.
Tão
pouco se compreende que o Itamarati deixe de projetar no
estrangeiro figura tão completa de estadista, salientando-se, em publicações em
várias línguas, ter sido o patriarca da Nação brasileira, um homem de ciência, um humanista, um sábio,
um “scholar”, embora, em dias difíceis, soldado. Mas como homem público
eminentemente civil. Negando, a aura do politiqueiro, do demagogo, do adulador,
quer de ricos, quer de multidões com sacrifício da “sã política”. Aquela “sã
política” que só se sente comprometida com os grandes interesses gerais; nunca
com os simplesmente privados ou de facção.
José Bonifácio de Andrada e Silva poderia ser visto
como nosso “pai-fundador”, à semelhança dos founding fathers nos
EUA.
Você já deve ter ouvido falar
dele nas aulas de História dos tempos de colégio, provavelmente como um sujeito
não muito elogiável. Essa leitura parcial dos eventos históricos – criminosa e
engenhosamente orientada, desvirtuaram a uma gem desse grande brasileiro, numa
sequência de tristes opções por um viés estatizante e excessivamente
centralizador de poder, bem como um apelo imaturo e precipitado a bruscas
mudanças .
Bonifácio, defendia a abolição da escravatura, a
qual via como desumana e mancha vil na sociedade brasileira.
Entendia Bonifácio ser o direito de propriedade,
como de fato é, fundamental. Diante, porém, do uso equivocado desseentendimento
por parte dos paladinos do escravismo, pontuou certeiramente:
”Se
a lei deve defender a propriedade, muito mais deve defender a liberdade pessoal
dos homens, que não pode ser propriedade de ninguém, sem atacar os direitos da
providência, que fez os homens livres, e não escravos.”
Ao contrário mesmo de alguns dos grandes fundadores
da pátria americana, o “founding father” brasileiro compreendia na
pluralidade étnica local algo positivo, e defendia a ampla miscigenação,
subsequente à promoção dos negros escravos à condição de cidadãos.
Sobre ecologia e conservacionsmo, Bonifácio questionava: Quais regimes
de fato, mais agrediram o meio-ambiente: os países capitalistas, onde se devem
considerar inegociáveis o conceito de propriedade privada e o saudável
interesse pessoal – evidentemente, ao lado da instrução e educação, também
elemento profundamente valorizado e estimulado por Bonifácio –, ou os regimes
comunistas, que por vezes provocaram devastações com o simples objetivo de
engrandecerem a imagem da opulência estatal?
Em seu pequeno comentário
intitulado Caráter geral dos brasileiros, ecoando seu desejo de que
o Brasil se notabilizasse como uma nação rica em conhecimento e filosofia,
Bonifácio conclui dizendo que nossos compatriotas “empreendem muito, acabam
pouco. Sendo os atenienses da América, se não forem comprimidos e tiranizados
pelo despotismo.” O vaticínio até agradável somente se cumprirá se vencermos
justamente essa batalha contra os anseios de grupos que não enxergam tão bem –
ou não querem enxergar –a importância de garantir ao indivíduo suas liberdades
e sua consequente dignidade.
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